P O E S I A S

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O preço do riso

custa,

como custa tanto a crer

que a vida é atribulada

pra quem luta pra viver

custa,

e nem posso acreditar

que vivemos tão somente

pra sonhar... sonhar... sonhar

que bom,

se tudo não fosse assim,

como serias tu?

o que seria de mim?

fecho o cenho

já não sei aonde ir

com tanta agrura ao entorno

nada mais me faz sorrir

vejo envolto ao tormento

com muita lágrima em vão

e o vigor da indiferença

molestando o coração

há um sorriso opaco

em cada face que vejo

há um olhar temeroso

no destino, e no desejo.

J Á

Já não vale mais a pena

Já não posso esconder

Já lutei tanto na vida

Já é hora de dizer

Já cantei em serenatas

Já me banhei com o luar

Já andei de pés descalços

Já amei só por amar

Já tomei banhos de chuva

Já confundi sentimentos

Já ouvi vários conselhos

Já tive arrependimentos

Já chorei de solidão

Já jurei não mais chorar

Já voltei arrependido

Já jurei não mais jurar

Já senti frio nas noites

Já me vi só na multidão

Já perdi noites insones

Já chorei de emoção

Já tive medo do escuro

Já quase morri de dor

Já fiquei envergonhado

Já sofri por meu amor

Já chorei de alegria

Já roubei flores do jardim

Já acreditei nos outros

Já não acreditei em mim

Já desconfiei de todos

Já me senti um incapaz

Já chutei pedras na vida

Já consegui minha paz

Já dei bastantes conselhos

Já, de outros, os recebi.

Já embalei filhos ao colo

Já sei o quanto sofri

Já disse muito “te amo”

Já não soube desculpar

Já posso ver os meus erros

Já consigo me perdoar.

                       S A U D A D E

de tudo na nossa vida
o que temos de verdade
são lembranças do passado
carregadas de saudade

saudade dos velhos tempos

que um dia nos viu nascer

e da alegre juventude

tão difícil de esquecer

das brincadeiras amadas

que deixamos lá no tempo

e dos pequeninos amigos

que se foram como o vento

das alvoradas cantadas
por passarinhos em bando
e do sopro ameno da brisa
tal como se fosse um pranto

das cantigas de ninar

que a mamãe muito entoava

e que ao colo embalando

quase sempre madrugava

das histórias bem contadas

pra adormecer e dormir

e da meiguice da voz

tão suave de se ouvir

do anoitecer tenebroso
tão medonho e assustador
sempre ao colo protegido
por mãos cheias de amor

não ignore a saudade

pois isto não lhe convém

se hoje a menosprezas

um dia terás também.

bendito sejam os momentos

que só a saudade me faz

reviver em pensamentos

ao quê eu não verei jamais

“ter saudade é sentir a presença da ausência”.

A MENINA E O PASSARINHO

Canta, passarinho! Canta!

Rogava a menina, em pranto.

E o passarinho, no ninho,

não soltava mais seu canto.

Pula passarinho! Pula!

Soluçando ela pedia.

E o passarinho, inerte,

na gaiola, só dormia..

“Ave Maria cheia de graças”

olhava o céu, implorando,

com uma lágrima brilhante

no seu rostinho rolando

Ah se houvesse um milagre

para eu ver você voar.

Eu seria tão feliz!

Dizia a menina, a chorar.

Canta, passarinho! Canta!

Agoniada ela pedia.

E o passarinho, quietinho,

pra eternidade dormia..

Com os olhos marejados

o enterrou no seu quintal.

E uma flor, bem perfumada,

lá deixou como sinal.

A menina, entristecida,

não comia, não sorria.

Seu amigo inseparável,

Carregou sua alegria.

E nos seus sonhos inocentes,

tão formosa qual uma santa.

Delirantemente ela dizia:

Canta, passarinho! Canta!

Veredas da Vida

Pelas andanças, na vida, percorridas

Em muitas pedras e espinhos deparamos

Sentimos dores em todas as feridas

Ao se abriram nas pegadas que deixamos 

As cicatrizes são como páginas numeradas 

Do grande livro que só ensina a viver

“Livro da vida” com veredas bem traçadas

É o grande mestre que nos diz como fazer

Em cada tarde que o Sol desaparece

Mais uma página do livro se virou

Nada se aprende do dia que se esvaece

Nem percebemos que a vida se encurtou

Bem que devia ser muito diferente

Em tudo isso que ladeia o nosso ser

Sofre-se tanto durante o decorrente

De uma vida com tão pouco a se dizer

Por quantas vezes se sonha acordado

E nesses sonhos nos sentimos mais feliz

Sai-se do sonho e se vê tudo tão mudado

Olha-se trás e não se fez o que bem quis.


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PROCURA-SE

UM ENFERMO que sorri de sua dor

UM SÁBIO que ensine a não morrer

UM POETA que nunca falou de amor

UM ALEIJADO que não sabe o que é sofrer

UM LOUCO que entenda da razão

UM ÉBRIO que beba sem motivo

UM AMANTE que não sinta emoção

UM ERRADO que não mereça castigo

UM CAMINHO para se chegar ao céu

UMA CRIANÇA que sorri sem brilho

UM MENDIGO que não viva ao léu

UM TREM que ande sem os trilhos

PROCURA-SE, e PAGA-SE bem

A QUEM nunca tenha amado

QUEM de nada se arrependa

E QUE jamais tenha pecado

UM ser HUMANO perfeito

QUE NÃO tenha os erros meus

E QUE na hora da morte

NÃO CHAME o nome de Deus

A VIDA, COMO ELA É

Se envolva com a alegria

Conviva com harmonia

Pra depois sentir saudade

Deixe-se estar sorrindo

Veja a vida sempre indo

Atrás da felicidade

Corra muito da tristeza

Se envolva com a natureza

E tenha bom coração

A vida é muito ligeira

Descemos sempre a ladeira

Sem nenhuma direção.

Veja-se envelhecido

Enrugado e abatido

Como Deus o programou

Tenha toda a certeza

Que a vida é passageira

E tão carente de amor.

Nossa vida é como o canto

De passarinhos em bando

Que velozmente passou

Passou zunindo; voando
Deixando apenas, o canto,

Que tão logo se acabou.