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O AMOR no preconceito
Diná foi uma menina que nunca havia
tomado uma surra nem do pai e nem da mãe, pois como filha única que era, ela
possuía razões de sobra amparada com o dengo, o mimo e a bajulação. Tudo isso
faziam-na a pessoa mais querida da família de dona Filó e de seu Mourão.
O tempo foi passando, passando, e Diná
começou a se encorpar e a esbanjar uma graciosa feminilidade que fazia os
garotos se babarem ao vê-la passar. Ela era, pois, a figura dos sonhos dos
garotos dali e um verdadeiro despropósito aos olhares irreverentes e falas
maliciosas dos homens casados, e, mais ainda: era o alvo de um doentio martírio
na mente das esposas ciumentas.
Em pouco tempo, a garota, já aos
quinze anos, passou a ser odiada por quase todas as mulheres casadas do lugar e
parecia que ali não mais haveria lugar para aquela formosura de menina-mulher.
Tudo lá era um sossego sonolento até
o dia em que a cidadezinha foi inesperadamente acordada de seu marasmo ao ser
invadida por uma turba de operários da exploração de petróleo que ali se
acamparam. Eles surgiram esbanjando dinheiro, encantamentos, galanteios,
conversa mole e… muita, muita promessa às mulheres que se encantavam com as
belezas daqueles forasteiros, e cediam facilmente aos seus eloquentes
galanteios.
Foi nessa época que os ouvidos da
adolescente Diná foram bombardeados de promessas fantasiosas oriundas de um
rapagão, que por bilhetes e recados prometia-lhe mundos e fundos em troca de um
namoro e a tudo isto o pretendente exigia pressa, pois alegava que em breve
levantaria acampamento e nunca mais se veriam.
Diná delirava de alegria, e através
de bilhetes correspondia aos encantados apelos do jovem Elias, que mais lhe
parecia um príncipe.
Mas tudo não passava de românticos e
meros recados de amor transformando Diná numa sonhadora com a felicidade, mas,
no seu coração ardente brota-lhe inesperadamente uma paixão arrasadora: uma
daquelas de se fazer o impensado.
Os bilhetes foram se sucedendo cheios
de surpresas e expectativas até a véspera do dia em que Elias teria que ir
embora com seu acampamento. E foi na tardezinha daquele dia que Diná se
encorajou e foi ao encontro marcado. Um acanhado olhar bem de perto; um suado e
trêmulo aperto de mãos; um abraço apertado regado com um beijo-relâmpago;
olhares fascinantes que se penetravam ardentemente e bocas sussurrantes. Nascia
assim um grande amor num enlace fulminante da paixão.
Diná voltou para casa sonhando acordada,
leve e transbordando de contentamento por ter vivido um momento único em sua
vida.
Após aquele primeiro encontro - visto
por muitos à luz do dia -, o nome de Diná caiu sujo de boca em boca até
alcançar os ouvidos de dona Filó. Foram elas: as odiosas ciumentas, que viviam de minuto em
minuto a vigiá-la, que decidiram por fim nas turbulências de seus casamentos e
decidiram denunciá-la à sua mãe com uma fofoca acrescida de maldades
maliciosas. Dona Filó ouviu as queixosas
e logo se recolheu. Ela necessitava de provas contundentes das tais acusações.
Anoiteceu.
Todos os pertences do acampamento
estavam sendo empilhados no caminhão e nele iria para muito distante o jovem
que há pouco instante jurara um grande amor por Diná. Mas a jovem, debruçada na
janela, ficou a olhar entristecida os movimentos lá fora, tendo seu coração
palpitando ardentemente no peito. Pela primeira vez, em sua vida, ela sentia
uma tormentosa angustia a invadir seu peito. Seu coração estava amargurado e
nada lha dava ânimo naquele instante.
Todos foram dormir, menos Diná. Aquela noite de insônia lhe parecia nunca ter
fim e, à luz do candeeiro, ela lia e relia os vários bilhetes que escondera no
travesseiro e agora os decorava regando-os com sôfregas lágrimas.
Entristecida ela zanzeia entre as
paredes do seu quarto, mas, ansiosa pelo raiar do dia que lhe parecia nunca
chegar, imaginava no doce sabor daquele primeiro beijo de amor e permanecia em
vigília, pois precisava estar de pés para ver e chorar a partida do seu grande
amor. E foi nesse estado de desesperada ânsia que seus pais ouviram barulhos na
casa e ligeiramente se levantaram. Eles já haviam tomado ciência do “descaramento”
da filha querida, e agora, com suficientes provas, tinham o dever de salvar sua
honra e acabar com a fala-fala da boca do povo.
Dona Filó levantou-se apressada e lhe
apareceu trôpega, batendo barulhosa na porta do quarto e assim lhe pronunciou:
– Diná, abra já esta porta! Que estás
a fazer de pés há esta hora? Porque não fostes dormir?
Pela porta aberta lá estavam eles, despenteados
e sonolentos.
– O que é, mamãe?
– Me diga uma coisa: quem é o
sujeitinho dos bilhetes?
Diná tremeu de medo; avermelhou-se.
Tais palavras lhes caíram como um raio. Ela jamais esperava por tão áspera
insinuação, menos agora: no término da madrugada, quando tudo já estava
acabado.
Nesse ínterim o caminhão passou
barulhoso pela rua e ela nem mesmo pode, sequer, acenar um adeus. Nada havia feito de errado
que merecesse ser olhada e gritada tão brutalmente como sua mãe o fazia e
jamais tinha visto seus pais assim tão bravos e preocupados como agora.
Seu Mourão ficou teso no vão da
porta, bem à sua frente. Ele coçava a barba e se aparentava cauteloso.
Permaneceu calado e visivelmente nervoso enquanto aguardava o desfecho da cena
para depois se intervir.
– Pai que é bom castiga – disse ele
pausadamente, balançando a cabeça e com a voz abafada.
Ali, naquela casa, não tinha lugar para filha
mal-falada. Era este o sórdido pensamento que redemoinhava na cabeça do velho:
um homem rude, metódico, e abastado de regras rígidas que não lhes permitiam
nenhum tipo de libertinagem no âmbito familiar.
– Que sujeito, mamãe? – e murmurou: – malditas fofoqueiras!
– Quem é o tal sujeitinho? – rebateu
seu Mourão aos berros, tomando a palavra da mulher e em tom trovejante exigia
uma resposta imediata.
– Não tem nenhum sujeito, oras! -
disse-lhe Diná, timidamente insolente.
Mas ela mal acabou a fala e…
– Toma sua sem-vergonha, vagabunda!
Toma e toma! – gritava dona Filó, irada; odiosa; segurando-a pelas tranças de
seus longos cabelos loiros, ao tempo em que lhe dava tapas e mais tapas na
cara, e lhe dizia carrancuda: – Tu és uma filha maldita; uma filha perdida na
boca de todos. Tu me encheste de vergonha!
– Deixa comigo, mulher! – ordenou seu
Mourão armando-se com uma corda de sisal para ajuíza-la com mais castigo.
A surra lhe foi animalesca. Essa,
segundo seu Mourão, era a única e cabível forma de quitar-lhe com o pagamento
da honra.
Diná trancou-se no quarto e não
chorou da surra. Nem uma lágrima brilhou em seus olhos.
Sua imaginação levava-a pela estrada
por aonde a mudança ia, e ela - em pensamento -, se via sobre o caminhão, entre
os pertences de Elias.
No silêncio e na dor de seu amor
ferido ela anda atordoada entre as paredes de seu quarto, porém, tomada por uma
extrema decisão abriu um baú e dele tirou algumas peças de roupas, depois
amarrou-as numa trouxa e saiu esquivosa pela janela dos fundos, tomando a
estrada-de-rodagem por onde seguiu o caminhão. Ninguém a viu passar.
Incansavelmente ela correu durante
todo aquele dia pisando por oito léguas em terra cascalhosa. Todo percurso ela
fez sobre as marcas deixadas pelos pneus até alcançar um lugarejo chamado
Manga. Ali ela imaginava encontrar seu amado, mas tudo não passou de um
estúpido equívoco. Elias estava longe demais e jamais se encontrariam: era o
que Diná, entristecida, pensava sentada à beira da estrada. Em sua mente estava
eternizada a imagem do primeiro beijo de amor, e isto era o que mais lhe
confortava.
Em sua casa a sua ausência é alarmada
e todos do lugar se mobilizam para encontrá-la.
Os homens, montados em cavalos, dia
após dia, vasculhavam palmo a palmo das redondezas, mas... nada de vestígios,
nada de Diná. Diná não estava por ali, desaparecera.
O desespero em seus pais aumentava ao
ouvirem que ela teria sumido no mundo e uma tenebrosa culpa os fazia
cabisbaixos.
Os dias passavam tristes para quem
conhecia Diná - para muitos, uma moça íntegra - e os ânimos se aqueciam para encontrá-la.
As buscas já se prolongavam por mais distâncias e aos anoiteceres todos
retornavam sem nenhuma notícia.
Para onde teria ido? Era o que mais
se questionava.
O desassossego se abate sobre todos,
principalmente em seus pais, que chorosos diziam tê-la perdido para sempre.
Oito dias se passaram quando
subitamente Diná apareceu ferida, maltrapilha, debilitada, fétida, faminta,
triste e áfona. A ninguém ela pôde dizer por onde andara. Por mais que a
implorassem sobre seu sumiço e suas andanças, mais e mais o silêncio lhe
dominava. Seu mundo se trancara e dela uma só palavra não saia. Ela passou a
viver entre a mágoa, a tristeza e a solidão. Suas amigas mais próximas se
distanciaram, pois não era de bom-grado tê-la no convívio: menos agora, que era
a única mal-falada do lugar.
Todos achavam que o seu pecado já
estava pago e que seus pais a perdoara com seu regresso ao lar. Mas dona Filó e
seu Mourão eram pessoas rancorosas e se achavam muito envergonhados por terem
uma filha desonrada. Então, afim de que a esquecessem e parassem de falar o seu
nome, eles resolveram enviá-la ao exílio numa fazenda de parentes, muito distante
dali.
Diná partiu com o seu ego amortecido,
levando as dores de um castigo na carne e na alma. Foi ela uma vítima do
preconceito, do tabu, da ignorância e da brutalidade em família. Ela nunca mais
pisou no chão da terra onde nasceu. Mas
tudo isto foi em vão, pois para onde a mandaram lá estava Elias, no novo
acampamento, e com ele o resgate de um amor verdadeiro, ardente, sonhado e
sofrido.
Foram felizes.
O AMOR no preconceito
Diná foi uma menina que nunca havia
tomado uma surra nem do pai e nem da mãe, pois como filha única que era, ela
possuía razões de sobra amparada com o dengo, o mimo e a bajulação. Tudo isso
faziam-na a pessoa mais querida da família de dona Filó e de seu Mourão.
O tempo foi passando, passando, e Diná
começou a se encorpar e a esbanjar uma graciosa feminilidade que fazia os
garotos se babarem ao vê-la passar. Ela era, pois, a figura dos sonhos dos
garotos dali e um verdadeiro despropósito aos olhares irreverentes e falas
maliciosas dos homens casados, e, mais ainda: era o alvo de um doentio martírio
na mente das esposas ciumentas.
Em pouco tempo, a garota, já aos
quinze anos, passou a ser odiada por quase todas as mulheres casadas do lugar e
parecia que ali não mais haveria lugar para aquela formosura de menina-mulher.
Tudo lá era um sossego sonolento até
o dia em que a cidadezinha foi inesperadamente acordada de seu marasmo ao ser
invadida por uma turba de operários da exploração de petróleo que ali se
acamparam. Eles surgiram esbanjando dinheiro, encantamentos, galanteios,
conversa mole e… muita, muita promessa às mulheres que se encantavam com as
belezas daqueles forasteiros, e cediam facilmente aos seus eloquentes
galanteios.
Foi nessa época que os ouvidos da
adolescente Diná foram bombardeados de promessas fantasiosas oriundas de um
rapagão, que por bilhetes e recados prometia-lhe mundos e fundos em troca de um
namoro e a tudo isto o pretendente exigia pressa, pois alegava que em breve
levantaria acampamento e nunca mais se veriam.
Diná delirava de alegria, e através
de bilhetes correspondia aos encantados apelos do jovem Elias, que mais lhe
parecia um príncipe.
Mas tudo não passava de românticos e
meros recados de amor transformando Diná numa sonhadora com a felicidade, mas,
no seu coração ardente brota-lhe inesperadamente uma paixão arrasadora: uma
daquelas de se fazer o impensado.
Os bilhetes foram se sucedendo cheios
de surpresas e expectativas até a véspera do dia em que Elias teria que ir
embora com seu acampamento. E foi na tardezinha daquele dia que Diná se
encorajou e foi ao encontro marcado. Um acanhado olhar bem de perto; um suado e
trêmulo aperto de mãos; um abraço apertado regado com um beijo-relâmpago;
olhares fascinantes que se penetravam ardentemente e bocas sussurrantes. Nascia
assim um grande amor num enlace fulminante da paixão.
Diná voltou para casa sonhando acordada,
leve e transbordando de contentamento por ter vivido um momento único em sua
vida.
Após aquele primeiro encontro - visto
por muitos à luz do dia -, o nome de Diná caiu sujo de boca em boca até
alcançar os ouvidos de dona Filó. Foram elas: as odiosas ciumentas, que viviam de minuto em
minuto a vigiá-la, que decidiram por fim nas turbulências de seus casamentos e
decidiram denunciá-la à sua mãe com uma fofoca acrescida de maldades
maliciosas. Dona Filó ouviu as queixosas
e logo se recolheu. Ela necessitava de provas contundentes das tais acusações.
Anoiteceu.
Todos os pertences do acampamento
estavam sendo empilhados no caminhão e nele iria para muito distante o jovem
que há pouco instante jurara um grande amor por Diná. Mas a jovem, debruçada na
janela, ficou a olhar entristecida os movimentos lá fora, tendo seu coração
palpitando ardentemente no peito. Pela primeira vez, em sua vida, ela sentia
uma tormentosa angustia a invadir seu peito. Seu coração estava amargurado e
nada lha dava ânimo naquele instante.
Todos foram dormir, menos Diná. Aquela noite de insônia lhe parecia nunca ter
fim e, à luz do candeeiro, ela lia e relia os vários bilhetes que escondera no
travesseiro e agora os decorava regando-os com sôfregas lágrimas.
Entristecida ela zanzeia entre as
paredes do seu quarto, mas, ansiosa pelo raiar do dia que lhe parecia nunca
chegar, imaginava no doce sabor daquele primeiro beijo de amor e permanecia em
vigília, pois precisava estar de pés para ver e chorar a partida do seu grande
amor. E foi nesse estado de desesperada ânsia que seus pais ouviram barulhos na
casa e ligeiramente se levantaram. Eles já haviam tomado ciência do “descaramento”
da filha querida, e agora, com suficientes provas, tinham o dever de salvar sua
honra e acabar com a fala-fala da boca do povo.
Dona Filó levantou-se apressada e lhe
apareceu trôpega, batendo barulhosa na porta do quarto e assim lhe pronunciou:
– Diná, abra já esta porta! Que estás
a fazer de pés há esta hora? Porque não fostes dormir?
Pela porta aberta lá estavam eles, despenteados
e sonolentos.
– O que é, mamãe?
– Me diga uma coisa: quem é o
sujeitinho dos bilhetes?
Diná tremeu de medo; avermelhou-se.
Tais palavras lhes caíram como um raio. Ela jamais esperava por tão áspera
insinuação, menos agora: no término da madrugada, quando tudo já estava
acabado.
Nesse ínterim o caminhão passou
barulhoso pela rua e ela nem mesmo pode, sequer, acenar um adeus. Nada havia feito de errado
que merecesse ser olhada e gritada tão brutalmente como sua mãe o fazia e
jamais tinha visto seus pais assim tão bravos e preocupados como agora.
Seu Mourão ficou teso no vão da
porta, bem à sua frente. Ele coçava a barba e se aparentava cauteloso.
Permaneceu calado e visivelmente nervoso enquanto aguardava o desfecho da cena
para depois se intervir.
– Pai que é bom castiga – disse ele
pausadamente, balançando a cabeça e com a voz abafada.
Ali, naquela casa, não tinha lugar para filha
mal-falada. Era este o sórdido pensamento que redemoinhava na cabeça do velho:
um homem rude, metódico, e abastado de regras rígidas que não lhes permitiam
nenhum tipo de libertinagem no âmbito familiar.
– Que sujeito, mamãe? – e murmurou: – malditas fofoqueiras!
– Quem é o tal sujeitinho? – rebateu
seu Mourão aos berros, tomando a palavra da mulher e em tom trovejante exigia
uma resposta imediata.
– Não tem nenhum sujeito, oras! -
disse-lhe Diná, timidamente insolente.
Mas ela mal acabou a fala e…
– Toma sua sem-vergonha, vagabunda!
Toma e toma! – gritava dona Filó, irada; odiosa; segurando-a pelas tranças de
seus longos cabelos loiros, ao tempo em que lhe dava tapas e mais tapas na
cara, e lhe dizia carrancuda: – Tu és uma filha maldita; uma filha perdida na
boca de todos. Tu me encheste de vergonha!
– Deixa comigo, mulher! – ordenou seu
Mourão armando-se com uma corda de sisal para ajuíza-la com mais castigo.
A surra lhe foi animalesca. Essa,
segundo seu Mourão, era a única e cabível forma de quitar-lhe com o pagamento
da honra.
Diná trancou-se no quarto e não
chorou da surra. Nem uma lágrima brilhou em seus olhos.
Sua imaginação levava-a pela estrada
por aonde a mudança ia, e ela - em pensamento -, se via sobre o caminhão, entre
os pertences de Elias.
No silêncio e na dor de seu amor
ferido ela anda atordoada entre as paredes de seu quarto, porém, tomada por uma
extrema decisão abriu um baú e dele tirou algumas peças de roupas, depois
amarrou-as numa trouxa e saiu esquivosa pela janela dos fundos, tomando a
estrada-de-rodagem por onde seguiu o caminhão. Ninguém a viu passar.
Incansavelmente ela correu durante
todo aquele dia pisando por oito léguas em terra cascalhosa. Todo percurso ela
fez sobre as marcas deixadas pelos pneus até alcançar um lugarejo chamado
Manga. Ali ela imaginava encontrar seu amado, mas tudo não passou de um
estúpido equívoco. Elias estava longe demais e jamais se encontrariam: era o
que Diná, entristecida, pensava sentada à beira da estrada. Em sua mente estava
eternizada a imagem do primeiro beijo de amor, e isto era o que mais lhe
confortava.
Em sua casa a sua ausência é alarmada
e todos do lugar se mobilizam para encontrá-la.
Os homens, montados em cavalos, dia
após dia, vasculhavam palmo a palmo das redondezas, mas... nada de vestígios,
nada de Diná. Diná não estava por ali, desaparecera.
O desespero em seus pais aumentava ao
ouvirem que ela teria sumido no mundo e uma tenebrosa culpa os fazia
cabisbaixos.
Os dias passavam tristes para quem
conhecia Diná - para muitos, uma moça íntegra - e os ânimos se aqueciam para encontrá-la.
As buscas já se prolongavam por mais distâncias e aos anoiteceres todos
retornavam sem nenhuma notícia.
Para onde teria ido? Era o que mais
se questionava.
O desassossego se abate sobre todos,
principalmente em seus pais, que chorosos diziam tê-la perdido para sempre.
Oito dias se passaram quando
subitamente Diná apareceu ferida, maltrapilha, debilitada, fétida, faminta,
triste e áfona. A ninguém ela pôde dizer por onde andara. Por mais que a
implorassem sobre seu sumiço e suas andanças, mais e mais o silêncio lhe
dominava. Seu mundo se trancara e dela uma só palavra não saia. Ela passou a
viver entre a mágoa, a tristeza e a solidão. Suas amigas mais próximas se
distanciaram, pois não era de bom-grado tê-la no convívio: menos agora, que era
a única mal-falada do lugar.
Todos achavam que o seu pecado já
estava pago e que seus pais a perdoara com seu regresso ao lar. Mas dona Filó e
seu Mourão eram pessoas rancorosas e se achavam muito envergonhados por terem
uma filha desonrada. Então, afim de que a esquecessem e parassem de falar o seu
nome, eles resolveram enviá-la ao exílio numa fazenda de parentes, muito distante
dali.
Diná partiu com o seu ego amortecido,
levando as dores de um castigo na carne e na alma. Foi ela uma vítima do
preconceito, do tabu, da ignorância e da brutalidade em família. Ela nunca mais
pisou no chão da terra onde nasceu. Mas
tudo isto foi em vão, pois para onde a mandaram lá estava Elias, no novo
acampamento, e com ele o resgate de um amor verdadeiro, ardente, sonhado e
sofrido.
Foram felizes.
O mendigo e eu X Eu e o mendigo
É muito difícil ter a coragem de expor façanhas
e impropérios de si próprio, principalmente quando são de situações quase que
corriqueiras na vida de muitos que ainda são adeptos à bebedeira tal como fui,
mas é muito necessário, pois, quem sabe, sirva como exemplo.
Alguns dizem que o alcoolismo é um vício
hereditário, outros, que é uma doença incurável. Nada disso, digo eu: ele é o
fim da picada.
Há uma infinidade de definições para o
alcoólatra, tais como: safado, ordinário, cachaceiro, irresponsável, imprudente,
mas, o melhor de todos, o mais acertado é sem dúvida: “sem-vergonha”.
Segue abaixo uma narrativa hilariante, fruto da
minha bebedeira.
*
“1978 - Uma sexta-feira, véspera de
aniversário de minha filha que completaria um aninho de vida. Eu estava feliz.
Algumas crianças já haviam sido convidadas para animar o evento com suas
divertidas alegrias; para comer do bolo e se empanturrarem com guloseimas e
assim cantarem o “parabéns pra você”.
Naquele dia eu havia recebido o salário do mês
que, como sempre, guardei-o no bolso do paletó verde, sim! Parece esquisito,
mas o paletó era mesmo verde: verde-cana, que se diga. O qual me foi
presenteado por um amigo.
A sexta-feira acabou, fui dormir. Mal o sábado
clareou e já estava eu lá na fábrica fazendo hora extra e cuidando dos
afazeres. Vez em quando me lembrava da festinha da filha que seria logo mais à
noite e me alegrava com um sorriso meigo a se irradiar no coração. É
maravilhoso lembrar das pessoas amadas quando se está ausente.
Ao meio-dia voltei para casa cumprindo a
irresistível via-sacra dos finais de semana, de boteco em boteco. Parecia estar
pagando uma promessa inacabável ao satisfazer-me enchendo a cara, e hoje me
clareio que havia um prazer mórbido ao me autodestruir; uma tentação
incontrolada.
Lá para as tantas, da tarde, ao cumprir meu
penúltimo compromisso com o copo, me deparei com um indivíduo, um mendigo, que
isolado de qualquer atenção humanitária catava restos de pipoca espalhados na
sarjeta e prazerosamente devorava-as como se fora o mais requintado dos
alimentos humanos. Condoí-me daquela miserabilidade e o convidei a se
aproximar. Ofereci-lhe qualquer coisa a comer, mas ele exigiu vodka. Achei
esquisito um mendigo querer uma bebida tão nobre, mas, dei-a, e ele a ingeriu
num movimento brusco, goela abaixo. E ficamos a prosear. Tinha ele um olhar
triste frente aos olhos azuis; a pele suja e escamada pelos maus-tratos; roupa
esfarrapada e fétida; cabelos sebosos e encaracolados e falava o português com
um sotaque quase que incompreensível. Disse-me ser europeu e que fugira da
Rússia por motivos vários. A princípio nada queria falar. Dei-lhe outra dose da
vodka para desenrolar a língua e se comunicar com mais perceptividade e foi
então que ele passou a falar dos czares, de Yuri Gagarin, de Moscou, de San Pitsburgo, da Praça Vermelha, de Stalin, de
Lênin, do poderoso Leonid Brezhnev (naquele tempo não se podia
falar de comunistas por aqui) e de tantos outros nomes que não mais me lembro.
Disse-me, com um sorriso meio tristonho e transitório, que, outrora, havia sido
um técnico da aviação e que aqui, no Brasil, era ele um técnico do cata-cata.
Rimos juntos e ficamos assim... uma espécie de amigos.
E no lugar da vodka, tome-lhe pinga.
O botequeiro mostrava-se insatisfeito e inquieto
com a presença do tal freguês.
Paguei a conta e o convidei a almoçar comigo, em
minha casa.
E lá vamos nós, ombro-a-ombro; cambaleantes e
desaprumados pela rua abaixo, eu e o mendigo, o mendigo e eu.
A patroa nos recebeu de cara feia e
veementemente retrucava com aspereza aquele indivíduo dentro de sua casa,
sentado à sua mesa. Mas, com todos esses ferrenhos obstáculos não me contive.
Eu queria por divina força ajudar àquele mísero que só tinha uns farrapos no
corpo como único cabedal, e para minimizar sua sofrível situação eu o autorizei
a se banhar com direito a chuveiro quente, toalha, cueca e calça: lavadas e
passadas, meia, sapato (usado) xampu, espelho, sabonete, creme de barba,
barbeador, desodorante, chinelo, loção pós-barba, tesoura e pente.
O sujeito demorou meio século para se banhar
cantarolando em russo: - haja paciência, eu dizia a todo instante. Por fim...
hei-lo. Assustei-me com sua aparição. Nem parecia o mesmo que antes entrara no
banheiro. Estava ele limpidamente vestido, barbeado e penteado.
Fiquei boquiaberto, mas contente com a minha boa
ação: a famosa ação de graças da qual, hoje, não vejo nenhuma graça.
Sentou-se à mesa e comeu fartamente do meu
frango com arroz e feijão.
- Agora o senhor pode ir embora – disse-lhe
calmamente a patroa.
- Espere um pouco – eu falei.
A seguir entrei no quarto e de lá voltei com o
dito paletó verde, e o mandei vestir. O homem ficou radiante com o presente,
agradeceu por tudo e foi embora a passos apressados. Depois de satisfeito com a
boa ação, sentei-me no batente da porta e fiquei a pensar o quanto que eu fui
útil àquele miserável. Achava eu que uma boa ação é paga com outra e que logo a
receberia de volta.
Passados uns minutos eu falei para a patroa:
- Por favor, poderia me trazer um cigarro, o meu
acabou!
Com uma voz indócil ela me interrogou:
- Você não estava no bar, porquê não comprou?
- Por que gastei tudo do bolso com a bebedeira!
– e bradei insistente: - Então traga-me um dinheiro, irei comprá-lo!
- Onde ele está? – falou com muita
prudência.
- No bolso do paletó verde, oras! – respondi-lhe
esbravejante (coisa de bêbado).
- Mas... o paletó verde você não deu ao mendigo?
- Meu Deus! – gritei desesperado.
A seguir saí correndo pelas ruas, enlouquecido;
à procura do distinto mendigo. E a todo vizinho que eu deparava, assim
perguntava:
- Você viu passar por aqui um mendigo vestido
num paletó verde?
A resposta era sempre a mesma:
- Mendigo de paletó verde? Nããão!
Já outros me zombavam, assim:
- Você é louco? Mendigo só se veste com trapos!
Vi nenhum, não.
E agora? Como pagarei o aluguel da casa, a luz,
a água e a comida do mês?
Só me restava xingar o russo, e isto eu fazia a
todo instante, berrando:
- Tomara que aquele desgraçado morra!
Anoiteceu
- Não tem festa. Só no ano que vem -
dizia eu aos convidados que iam chegando. E por um bom tempo fui
chacoteado como: “o homem do paletó verde”
E você leitor, quer passar por um vexame desse?
Então beba!
O mendigo e eu X Eu e o mendigo
É muito difícil ter a coragem de expor façanhas
e impropérios de si próprio, principalmente quando são de situações quase que
corriqueiras na vida de muitos que ainda são adeptos à bebedeira tal como fui,
mas é muito necessário, pois, quem sabe, sirva como exemplo.
Alguns dizem que o alcoolismo é um vício
hereditário, outros, que é uma doença incurável. Nada disso, digo eu: ele é o
fim da picada.
Há uma infinidade de definições para o
alcoólatra, tais como: safado, ordinário, cachaceiro, irresponsável, imprudente,
mas, o melhor de todos, o mais acertado é sem dúvida: “sem-vergonha”.
Segue abaixo uma narrativa hilariante, fruto da
minha bebedeira.
*
“1978 - Uma sexta-feira, véspera de
aniversário de minha filha que completaria um aninho de vida. Eu estava feliz.
Algumas crianças já haviam sido convidadas para animar o evento com suas
divertidas alegrias; para comer do bolo e se empanturrarem com guloseimas e
assim cantarem o “parabéns pra você”.
Naquele dia eu havia recebido o salário do mês
que, como sempre, guardei-o no bolso do paletó verde, sim! Parece esquisito,
mas o paletó era mesmo verde: verde-cana, que se diga. O qual me foi
presenteado por um amigo.
A sexta-feira acabou, fui dormir. Mal o sábado
clareou e já estava eu lá na fábrica fazendo hora extra e cuidando dos
afazeres. Vez em quando me lembrava da festinha da filha que seria logo mais à
noite e me alegrava com um sorriso meigo a se irradiar no coração. É
maravilhoso lembrar das pessoas amadas quando se está ausente.
Ao meio-dia voltei para casa cumprindo a
irresistível via-sacra dos finais de semana, de boteco em boteco. Parecia estar
pagando uma promessa inacabável ao satisfazer-me enchendo a cara, e hoje me
clareio que havia um prazer mórbido ao me autodestruir; uma tentação
incontrolada.
Lá para as tantas, da tarde, ao cumprir meu
penúltimo compromisso com o copo, me deparei com um indivíduo, um mendigo, que
isolado de qualquer atenção humanitária catava restos de pipoca espalhados na
sarjeta e prazerosamente devorava-as como se fora o mais requintado dos
alimentos humanos. Condoí-me daquela miserabilidade e o convidei a se
aproximar. Ofereci-lhe qualquer coisa a comer, mas ele exigiu vodka. Achei
esquisito um mendigo querer uma bebida tão nobre, mas, dei-a, e ele a ingeriu
num movimento brusco, goela abaixo. E ficamos a prosear. Tinha ele um olhar
triste frente aos olhos azuis; a pele suja e escamada pelos maus-tratos; roupa
esfarrapada e fétida; cabelos sebosos e encaracolados e falava o português com
um sotaque quase que incompreensível. Disse-me ser europeu e que fugira da
Rússia por motivos vários. A princípio nada queria falar. Dei-lhe outra dose da
vodka para desenrolar a língua e se comunicar com mais perceptividade e foi
então que ele passou a falar dos czares, de Yuri Gagarin, de Moscou, de San Pitsburgo, da Praça Vermelha, de Stalin, de
Lênin, do poderoso Leonid Brezhnev (naquele tempo não se podia
falar de comunistas por aqui) e de tantos outros nomes que não mais me lembro.
Disse-me, com um sorriso meio tristonho e transitório, que, outrora, havia sido
um técnico da aviação e que aqui, no Brasil, era ele um técnico do cata-cata.
Rimos juntos e ficamos assim... uma espécie de amigos.
E no lugar da vodka, tome-lhe pinga.
O botequeiro mostrava-se insatisfeito e inquieto
com a presença do tal freguês.
Paguei a conta e o convidei a almoçar comigo, em
minha casa.
E lá vamos nós, ombro-a-ombro; cambaleantes e
desaprumados pela rua abaixo, eu e o mendigo, o mendigo e eu.
A patroa nos recebeu de cara feia e
veementemente retrucava com aspereza aquele indivíduo dentro de sua casa,
sentado à sua mesa. Mas, com todos esses ferrenhos obstáculos não me contive.
Eu queria por divina força ajudar àquele mísero que só tinha uns farrapos no
corpo como único cabedal, e para minimizar sua sofrível situação eu o autorizei
a se banhar com direito a chuveiro quente, toalha, cueca e calça: lavadas e
passadas, meia, sapato (usado) xampu, espelho, sabonete, creme de barba,
barbeador, desodorante, chinelo, loção pós-barba, tesoura e pente.
O sujeito demorou meio século para se banhar
cantarolando em russo: - haja paciência, eu dizia a todo instante. Por fim...
hei-lo. Assustei-me com sua aparição. Nem parecia o mesmo que antes entrara no
banheiro. Estava ele limpidamente vestido, barbeado e penteado.
Fiquei boquiaberto, mas contente com a minha boa
ação: a famosa ação de graças da qual, hoje, não vejo nenhuma graça.
Sentou-se à mesa e comeu fartamente do meu
frango com arroz e feijão.
- Agora o senhor pode ir embora – disse-lhe
calmamente a patroa.
- Espere um pouco – eu falei.
A seguir entrei no quarto e de lá voltei com o
dito paletó verde, e o mandei vestir. O homem ficou radiante com o presente,
agradeceu por tudo e foi embora a passos apressados. Depois de satisfeito com a
boa ação, sentei-me no batente da porta e fiquei a pensar o quanto que eu fui
útil àquele miserável. Achava eu que uma boa ação é paga com outra e que logo a
receberia de volta.
Passados uns minutos eu falei para a patroa:
- Por favor, poderia me trazer um cigarro, o meu
acabou!
Com uma voz indócil ela me interrogou:
- Você não estava no bar, porquê não comprou?
- Por que gastei tudo do bolso com a bebedeira!
– e bradei insistente: - Então traga-me um dinheiro, irei comprá-lo!
- Onde ele está? – falou com muita
prudência.
- No bolso do paletó verde, oras! – respondi-lhe
esbravejante (coisa de bêbado).
- Mas... o paletó verde você não deu ao mendigo?
- Meu Deus! – gritei desesperado.
A seguir saí correndo pelas ruas, enlouquecido;
à procura do distinto mendigo. E a todo vizinho que eu deparava, assim
perguntava:
- Você viu passar por aqui um mendigo vestido
num paletó verde?
A resposta era sempre a mesma:
- Mendigo de paletó verde? Nããão!
Já outros me zombavam, assim:
- Você é louco? Mendigo só se veste com trapos!
Vi nenhum, não.
E agora? Como pagarei o aluguel da casa, a luz,
a água e a comida do mês?
Só me restava xingar o russo, e isto eu fazia a
todo instante, berrando:
- Tomara que aquele desgraçado morra!
Anoiteceu
- Não tem festa. Só no ano que vem -
dizia eu aos convidados que iam chegando. E por um bom tempo fui
chacoteado como: “o homem do paletó verde”
E você leitor, quer passar por um vexame desse?
Então beba!
***************************************
A Sabatina
Ela mal se sentou frente à classe e erguendo sua temida palmatória, assim falou:
- “Silêncio! Durante esta sabatina aqui não terá lugar para o erro; a omissão de conhecimentos que já foram ensinados e, tampouco, para a violência e o desrespeito aos colegas, cá, e também lá fora. Quem descumprir a essa regra terá o castigo em dobro”.
Era sempre assim que a professora Tereza discursava a seus alunos antes da temida sabatina de todos os fins de semana. Nela teríamos que responder com convicção e clareza, as perguntas que forem requisitadas, mas, se, por ventura, o aluno não soubesse a resposta correta, caberia ao próximo colega, à sua direita, respondê-la, mas, se esse também fosse omisso, o castigo com dolorosas palmatoadas viria daquele que acertasse. Nesse caso o aluno vencedor palmatoava obrigatoriamente o colega que não estudou.
A chacota na saída da escola era barulhosa e inevitável.
As brigas eram constantes e cada vez mais violentas. Mas tudo ficava longe dos ouvidos da professora.
Pais discutiam e até se pegavam por causa dos filhos briguentos.
Eu nunca tinha dado e nem tomado uma única palmada e a professora dizia que eu era exemplar. Com isso eu me enchia de orgulho; de ufania.
A quantidade de palmatoadas ficava à mercê da professora que estipulava o mínimo de duas e o máximo de dez, dependendo, portanto, da sapiência e da conduta do indivíduo questionado.
Começa a sabatina.
Dez alunos são citados a formar uma fila na frente da educadora e, dentre eles, estava eu.
À minha esquerda estava o Zé Roló, bem conhecido por sua valentia e muito temido por sua violência juvenil. Quase todos os colegas já haviam apanhado dele e eu o evitava tal como o diabo evita a cruz. O sujeito brigava por qualquer coisa ou motivo e, também, sem qualquer motivo. Eu não me contentava em ser o segundo da fila à direita do tal sujeito e torcia para que ele não errasse a nenhum dos quesitos propostos.
De repente a mestra ergueu o braço direito com a palmatória em punho e, se dirigindo ao Zé Roló, assim lhe perguntou:
- Quanto é nove vezes oito?
Ele pensou por uns dez, quinze segundos, e bem alto gritou:
- Sessenta e seis!
Minhas pernas tremiam por puro medo de brigar com ele. Eu não deveria responder corretamente, pois o meu “acerto” custar-me-ia alguns tapas no meio da cara há poucos minutos dali, na saída. Eu nunca havia brigado. Eu nunca havia apanhado.
A professora me encarou, exigindo réplica.
Então, assim respondi:
- Nove vezes oito é setenta e nove, professora!
Até hoje eu não me perdôo por tamanho absurdo. Mas apanhar de Zó Roló seria muito mais vergonhoso. A cidade toda saberia, assim como ela sabe de tudo e da vida de todos.
A mestra percebeu algo estranho e resolveu anular a questão. Também mandou que nós trocássemos de lugar. Passei a ser o primeiro da fila e Zé Roló o segundo, à minha direita.
- Vamos começar novamente – disse ela -, qual é a capital do Brasil?
Já que eu era o primeiro da fila, prontamente respondi:
- Niterói, professora!
Dessa vez Zé Roló acertou, dizendo:
- Não é Niterói, é Rio de Janeiro!
- Dá nele duas palmadas - disse-lhe a professora entregando-lhe a monstruosa palmatória.
Minha estratégia era ficar amigo de Zé Roló e aquelas duas pequenas palmadas serviram para tal.
“ SE NÃO PODE COM ELE JUNTE-SE A ELE”
Começa a sabatina.
O Pequeno Lenhador
Olhei para o céu e simplesmente por falar, falei:
– Deve ser quase nove horas, pois o dia já está bem quente!
– É... faz tempo que andamos na estrada! – disse meu irmão acrescentando a prosa.
O Sol, naquele momento, estava alto e quente, e a areia fina que há pouco tempo atrás refrescava os nossos pés descalços, agora começava a nos incomodar com uma quentura que parecia brotar das entranhas da terra.
O suor inundava nossos poros e nos dava uma desagradável sensação de desconforto, mas tínhamos que prosseguir e superar inúmeros obstáculos que osca de um adjutório que pudesse minimizar a resistente carência da época de estiagem.
Aquele foi um mundo real que hoje parece fantasioso tal como aqui foi descrito, e de nada adiantaria ser narrado se eu não o tivesse vivido.
Nossa pequenina carruagem, puxada por seis carneiros, se arrastavabviamente viriam durante todo aquele dia.
No descampado tabuleiro, por aonde íamos, a paisagem matutina tornara-me inesquecível com o mais belo amanhecer, vendo o Sol rasgando a linha do horizonte e majestosamente se destacando no límpido céu azul, ao tempo em que era recebido com a alegria de incontáveis pássaros que gorjeavam e revoavam em meio ao suave perfume de alecrim que irradiava o ar, e que parecia não existir outro mato por ali. O harmonioso canto dos pássaros formava uma dadivosa sinfonia da natureza e acalentava os anseios dos dois meninos que se enveredavam na amplidão da caatinga na sofrida bu na areia fina da estrada onde apareciam rastros de pássaros e de pequenos animais, e tudo aquilo formava desenhos na areia que enchiam meus olhos com tamanha beleza e.... lentamente seguíamos.
Nada seria prazeroso para nós dois que não sabíamos ao certo a que horas chegaríamos em casa.
Em nossas cabeças tínhamos chapéus de palha para nos proteger do sol e das poeiras que em redemoinhos vez em quando nos surpreendiam.
O ar quente sobre o chão arenoso dava a impressão de ser nuvem que saia da terra e eu me assustava com aquela visão dantesca.
Debaixo de um frondoso juazeiro, o mesmo que sempre nos servia como ponto referencial para nosso descanso, nós nos abrigamos para o desjejum e, para tanto, ingerimos farofa com carne suína, grãos de feijão, pimenta malagueta, rapadura e água, e ali ficamos por alguns minutos para que os carneiros pudessem se aliviar do cansaço e tão logo seguirmos rumo à nossa predileta missão: cortar lenha pra vender.
Éramos duas crianças que vez em quando deixávamos de ir à escola para exercermos tal atividade, a qual tinha por finalidade auxiliar o lar, e não podia ser diferente, pois a carência nos legitimava para tal feito.
Meu irmão e companheiro de lida, um pouco mais velho do que eu, era o chefe da expedição, e nós dois cumprimos com esta tarefa por muitas e muitas vezes e, assim, dia após dia, íamos revelando o retrato de nossa humilde infância.
Mais ou menos meio-dia. Não tínhamos precisão da hora mecânica, apenas a intuição por estarmos pisoteando nossas próprias sombras que a cada momento se refugiavam sob nossos pés como que se escondendo do escaldante calor do lugar.
Chegamos à mata e iniciamos o corte da lenha.
Os sons da foice e do machado quebravam o silêncio e ecoavam na imensidão do matagal, por isso temíamos que fôssemos denunciados ao dono da terra e sermos sumariamente expulsos dali aos ataques de seus cães e seus capangas, e tudo perderíamos. Nosso medo era inquietante.
Cortamos toda lenha necessária e, aos feixes, a transportamos no ombro até o carro que de tão cheio nada mais cabia. Depois nos sentamos na areia sob a copa das árvores à beira do caminho para comermos da sobra da farofa, bebermos da água da cabaça e recarregar nossas energias .
Os carneiros, ali próximos, pastavam às gulas.
Estávamos aliviados, descansados e alimentados.
Então, disse-me meu irmão:
– Vamos dar água aos animais e depois partiremos!
Conduzimo-nos até um tanque de água barrenta que havia nas proximidades e logo voltamos e atrelamos os animais ao carro.
Iniciamos o regresso e passo a passo empurrávamos o carro em auxílio aos carneiros em suas penosas labutas. O eixo do carro após receber o imenso peso da lenha se atritou e passou a emitir um cheiro de madeira queimando junto a um som grave que mais parecia um canto lamentoso. Era como uma música de uma nota só que se expandia na imensidão do campo, e que, para mim, ela atravessava a linha do horizonte e ia até o fim do mundo, denunciando nossa presença em terra de estranhos .
Constantemente tínhamos que lubrificar o eixo do carro com óleo diesel queimado, o qual nós trazíamos num recipiente de vidro pendurado numa das cangas dos carneiros. Tal providência era necessariamente indispensável, pois servia para diminuir o atrito e dessa maneira dar mais leveza ao carro, mas, mesmo assim, não eliminava toda sonoridade que, apenas, por algum instante mudava o tom de agudo para grave mas, não demorava e tudo voltava como antes. Aquele som iria nos perseguir até o último instante da jornada e certamente era o nosso maior suplício. Meus ouvidos, já incomodados com o barulhento cantar das milhares de cigarras, agora tinha mais um irritante aliado a me torturar.
Engolimos a última gota de água da cabaça que já estava quente, muito quente, e não víamos mais nenhum sinal de vida em nosso entorno além de nós mesmos, os carneiros e alguns calangos que corriam agoniados e enlouquecidos na areia quente, bem na nossa frente. Naquela hora do entardecer tudo por ali era desolação. Parecia até que os habitantes daquele mundo que no último amanhecer me encantaram com seus cânticos, revoadas e pegadas, haviam se mudado para bem longe ou, quem sabe, estariam por ali mesmo escondidos em seus purgatórios.
Na intenção de acelerar a caminhada, meu irmão cutucava o traseiro dos carneiros com a ponta de uma varinha e gritava seus fantasiosos nomes, assim urrando: anda roxinho! Puxa, branquinho! –, como se os mesmos o entendessem e pudessem, assim, agilizar com mais velocidade a nossa marcha que morosamente seguia passo a passo rumo ao pôr-do-sol.
Nossa viagem estava penosa, solitária e triste por sobre aquele chão castigado, que, de tão quente, já não mais podíamos pisá-lo. As poucas relvas e gramas que teimosamente ainda subsistiam esverdeadas na beira do caminho, eram quem nos serviam de tapetes que, aos pulos, íamos pisoteando. Mas os carneirinhos, não. Eles teriam que sofrer enrolados em suas lãs, sugando com a língua o ar seco e arrastando a carruagem com suas patas fervendo dentro da areia escaldante daquele verdadeiro inferno no sertão. E a tudo isto chamemos de seca do nordeste.
A imagem dessa odisseia ficou gravada na mente dos dois meninos e não necessita de longas palavras. Elas são até indizíveis na totalidade dos fatos.
Apiedamos-nos dos carneiros e os colocamos sob a sombra de uns arbustos que por ali ainda subsistiam e, assim, percebíamos que eles mal podiam respirar com suas línguas ressecadas de tanto inalar o ar quente e seus olhos nos fitavam como a nos implorar por um socorro que não lhes podíamos dar.
Já avistávamos nossa casa lá longe, bem longe, mas ainda nos restava ultrapassar o maior e mais perigoso de todos os obstáculos da jornada: descer a Ladeira Grande, como era assim conhecida por todos. Nela tínhamos inúmeros perigo a enfrentar e era necessário toda cautela e inumano esforço para determos o peso do carro de lenha. Nossas forças foram somadas às dos pequenos ovinos, que bravamente rasgavam o chão com suas frágeis patas, no desespero de frear a pesada carruagem que desgovernada se debatia em valas, pedras e ribanceiras até chegarmos ao fim da encosta. Uma verdadeira união do homem com o animal na louca tentativa de preservarem suas integridades físicas.
A fadiga nos incomodava e o anoitecer rapidamente se aproximava.
Seguíamos calmamente mirando um dos mais belo entardecer do sertão.
Não tínhamos suprimentos, nem nada. Já apresentávamos sinais de impotência para finalizar a jornada. Nossos passos eram curtos e pesados e o ponto final, que apesar de bem próximo, ainda nos parecia muito distante.
Finalmente chegamos.
Já era noite.
Descarregamos a lenha no quintal do comprador e dele recebemos algum dinheiro que o demos à nossa mãe, para que fosse trocado por qualquer coisa de valia.
Enquanto isto os bravos carneiros se deitaram no terreiro e nos castigavam com seus olhares tristes e de aparente exaustão.
– Amanhã iremos estudar, mas depois de amanhã teremos outra carga de lenha a buscar! – disse-me meu irmão, balançando sua rede antes de me dizer “boa noite, mano”.
Só nos restava dormir.
E aos cochilos, lhe respondi:
– Boa noite!
Aquela noite foi sem direito a sonhos.
Um invasor misterioso
De
vez em quando a vizinhança se apavorava com boatos de que ratazanas estariam
invadindo suas residências, mas, como diz o velho ditado, que, prevenir é
melhor que remediar, eu
não titubeei, adquiri um gato em quem depositei toda confiança e o batizei com
o nome de Miau. Era ele o mais nobre dos gatos que já vi: robusto, esperto e
ativo a qualquer movimento. Cabia-lhe a nobre missão de barrar a entrada de
tais intrusos no regaço do meu lar.
Não tardou e alguns indícios foram encontrados em várias partes da
casa, tal como: roupas roídas, barulhos noturnos, odores e, por fim, um objeto
de cor escura do tamanho de um grão de arroz deixado sob um móvel da sala de
estar.
– Estão vendo? Na casa tem rato! – exclamou a
patroa, irada, gritando bem alto no meu pé-de-ouvido – Pra que serve esse
bendito gato? Eu tenho horror a ratos! Que tratem de extermina-lo!
Senti-me
decepcionado com o Miau e pensei cá com meus-botões:
–
Será que aquele objeto foi mesmo deixado por um rato? E se foi, por que Miau
não deu cabo dele?
Fiquei
atento, com todos os sentidos à flor da pele.
Alvoroçado
comecei a remexer em tudo que havia na sala e uma agitação apoderou-se de mim:
me parecia que a qualquer momento eu estaria cara-a-cara com uma terrível
criatura a quem eu tenho medo e extrema ojeriza e, enquanto eu vasculhava tudo
fixava o pensamento naquele animal de anatomia pré-histórica e de aparências
repugnável. Não teria nenhum prazer ter que enfrenta-lo, mas, cheio de
desconfiança comecei a puxar sofás; amontoar cadeiras; amarrar cortinas ao
meio; retirar sapatos, chinelos, brinquedos e alguns objetos ao chão, enfim,
tudo preparado para a gloriosa captura do alarmado invasor.
Enquanto
isto as crianças da casa corriam desesperadas se esbarrando na direção do dito
objeto da aparição e lá se postaram em círculo com suas cabeças abaixadas na
direção do mesmo, donde, entre elas, deu-se inicio a um acirrado debate que
parecia ter a arqueologia presente em suas falas. Elas mexiam e remexiam o
objeto com uma varinha e algumas juravam que o mesmo pertencera a uma barata,
não! Um pássaro, não! Um besouro, não! Uma lagartixa, não! Elas discutiam com
muita veemência mas, enfim, apontando o tal objeto elas deram um primoroso
veredicto bradando quase que uníssonas:
–Vovó,
eis um belo cocô de rato!
Dito
isto todas se voltaram espantadas, e o silêncio se fez notório. Mas não tardou,
e tal como um inventor que cheio de ufania majestosamente alarma o seu invento,
assim, também, agiu uma das crianças ruidosamente avisou:
–
Olha lá um rato! Vejam! Estou vendo um rato!
As
outras se alertaram com a espantosa notícia e simultaneamente varreram tudo com
olhares avidamente arregalados.
–
Aonde?
–
Cadê?
–
Cadê?
– Acolá! Entrou correndo no porão! – confirmou a primeira
Todas
dispararam barulhosas na direção indicada. Elas verdadeiramente pareciam mais
animadas e corajosas que os adultos da casa.
– Trás
o Miau, rápido! Traz o Miau! – Disse a mais velha e mais decidida.
Uma
delas agarrou-se ao bichano – ainda sonolento – e o jogou no meio do porão.
Nesse
ínterim, a patroa sentenciava claramente determinando:
–
Fechem bem essa porta e não o deixem sair! O Miau matará o maldito!
Com
uma vassoura na mão, e não disfarçando o meu medo, também adentrei no porão –
que estava bem iluminado –, e lá todos os olhares se radiavam à procura do tal
invasor que misteriosamente desapareceu entre as quatro paredes. Fiquei até
duvidando se ele realmente fora avistado.
Tudo
que havia no porão eram simplesmente um cesto com roupas sujas, uma mesa
repleta de jornais velhos e de livros mofados; algumas ferramentas e nada mais,
mas...cadê o rato? Onde ele se escafedeu? - indagávamo-nos desconfiados.
Mexe
aqui mexe acolá e, por fim, levantei a tampa do cesto que estava semi-aberto e
lá estava ele com a cabeça enfiada entre os panos sujos e o resto do corpo
exposto. Ele imaginava estar seguramente camuflado e imperceptível. Tive pena:
era apenas um minúsculo e indefeso bebê camundongo que tentava esconder sua
própria vida. Cauteloso, cutuquei-o com o cabo da vassoura e a criatura me
encarou dentuda; emitindo um silvo agudo e amedrontador. Certamente aquele som
era uma imploração por um socorro. Novamente tive pena. Desesperado ele
rodopiou no cesto e pulou para fora ficando cara-à-cara com o terrível Miau.
Mas este parecia desolado e o ignorava. Simplesmente virava a cabeça para
acompanhar os agitados movimentos no ambiente e aparentava ter um ar de
desprezo a tudo e a todos em seu redor, principalmente ao minúsculo camundongo
que corria atordoado.
O
ratinho mal sabia que aquele seu algoz – por natureza seu predador indefensável
–, demonstrava-lhe extrema contemplância, pois, pacientemente se limitava a acompanhá-lo
com olhares piscos e piedosos.
O
misterioso invasor corria aturdido sob os ataques dos humanos e por fim se
ateve sobre o lombo do bichano onde calmamente se acomodou. Parecia ser ali o
seu porto seguro e talvez ele tivesse entendido que o seu grande rival agora se
tornara seu maior aliado e protetor. De repente o silencio quebrou todo alarido
que há pouco eclodiu no porão e admirada com a cena que via entre os dois
animais, uma das crianças, muito comovida, desabafou dizendo:
–
Olha só, gente! Ninguém nunca viu uma cena igual a essa: o ratinho deitado na
costa do gato e ambos se parecem amigos! Até se lambem!
O
Miau parecia hipnotizado. Nada o incomodava. Para ele o mundo estava paralisado.
Olhei
fixamente para ambos e com certa melancolia exclamei:
– O
que é a natureza!
“–
calma amigo, não te matarei! Que me venham as ratazanas”.
Creia, leitor, fiquei extasiado. Jamais vi
coisa semelhante. Mas mesmo assim o camundongo foi novamente insultado e o
pega-pega reiniciado. Ele escalava as paredes num alpinismo incomum, e
deslizando caía; subia na mesa e pulava no maior dos terrores e, no ápice de
seu desespero, se arremeteu por sobre uma das crianças e misteriosamente
desapareceu frente à varredura ocular dos humanos ali presentes.
Estávamos
quedos e incrédulos.
Não
ficou centímetro sem vistoria, mas... cadê o camundongo?
Pela
segunda vez um mistério ficou no ar. Cheguei a pensar que o gato o engolira ou
que algum espírito das florestas o abduzira.
Com
intensa decepção desistimos da busca e consolávamo-nos afirmando que a qualquer
momento, ele, ou morreria de fome, ou seria devorado pelas garras do bichano.
Fechamos
a porta e nos retiramos envergonhados por não o termos matado.
Passados
alguns dias a pequena criatura foi vista saindo sorrateiramente porta afora em
desafio à inteligência humana. Desta vez correu para o matagal. Foi à procura
da liberdade e do direito que tinha pela própria vida. Foi gozar suas delícias
nos esgotos da vida, mas deixando-nos com a grande lição de que os animais
também se amam, se respeitam e se compadecem.
Esfriados os ânimos
concluímos que o Miau foi o grande herói daquela labuta, e como recompensa ele
foi laureado com uma gloriosa castração.
Inesquecível Carrossel
Era grande o movimento de gente que chegava para a festa da padroeira.
A cidade já estava muito alegre e até o sino da igreja parecia musicado e mais festivo. As crianças corriam pra cima e pra baixo; pra lá e pra cá, alegrando a todos.
Um velho caminhão pára no centro da praça e dele desce um homem gorducho carregando algumas ferramentas. A criançada, cheia de curiosidades, cerca o caminhão e tão logo se vai embora. Apenas uma ficou de plantão: o Chiquinho.
- Moço! O que está fazendo?
O homem de joelhos no chão, parou de cavar. Enxugou o suor da testa com a costa da mão, encostou a cabeça no cabo da cavadeira e, olhando para o menino, calmamente lhe respondeu:
- Estou cavando um buraco.
- Pra quê? Pra quê você quer esse buraco? - Insistiu o garoto.
- Para plantar um brinquedo! - Respondeu-lhe com um largo sorriso e voltou a cavar.
- O que é que tem em cima desse caminhão, moço?
- Um brinquedo! Um lindo carrossel!
- A gente pra brincar nele paga?
- Sim, só duas moedinhas, um Real!
O menino ficou a se perguntar: - como será um carrossel? E com um olhar inquieto começou a vistoriar aquele caminhão enorme, coberto com uma lona amarela; parado na praça; bem na frente de sua casa. Ele via o caminhão como se fosse um brinquedo gigante, e não parava de alisá-lo e de se olhar refletido na pintura da boléia. Tudo lhe era novidade. E enquanto o homem cavava buracos na praça para erguer o carrossel, o menino fazia-lhe companhia e embaraçosas perguntas.
Suas curiosidades e a vontade de brincar no carrossel, eram tantas, que Chiquinho passou a desobedecer a sua própria mãe.
- Chiquinho! Oou Chiquinho. Eu vou te bater, entra! - Ela gritava a todo instante para que o menino parasse de amolar ao homem e voltasse para casa, mas ele dava pouca importância as ameaças de uma surra, pois o que mais lhe interessava era ver o carrossel, e nele poder brincar.
- Moço! Como é o carrossel?
- É grande! Tem luzes, cavalos, leões e elefantes. Você vai brincar nele? - Questionou-lhe o gorducho, enquanto, furiosamente, arremessava a cavadeira no buraco.
O menino fez cara de tristeza e aquietou-se. Ficou olhando para os cabelos esbranquiçados da barba do gorducho e por pouco não lhe veio uma lágrima.
- Não! Não tenho dinheiro. Mamãe não tem dinheiro. Lá em casa ninguém tem dinheir! - Disse e depois se calou. Após um curto silencio o gorducho lhe consolou:
- Dinheiro você arranja. É fácil! Muito fácil! É só pedir.
A noite não demorou e as luzes do carrossel piscavam dentro de seus olhos como se fossem estrelas. Muitas fantasias corriam em sua mente, mas sua felicidade era nula: todas as crianças do lugar brincavam nos cavalos, leões e elefantes, menos ele que, apenas, a tudo assistia correndo em volta do carrossel.
- Moço me dê uma moeda! Por favor, moço, me dê um dinheiro!
A resposta era-lhe sempre a mesma:
- Não.
- Moço, deixa-me entrar
E o bilheteiro dizia-lhe categórico:
- Moço, deixa-me entrar
E o bilheteiro dizia-lhe categórico:
- Não.
Aquele “não” deixava-o triste e magoado. Chiquinho percebia claramente que o caminhão iria embora e nunca brincaria num carrossel.
A festa acabou e todos se foram.
O homem desmontou o brinquedo e o cobriu com a mesma lona sobre o velho caminhão e depois sumiu na curva da estrada, deixando para Chiquinho apenas o som de sua buzina como única recordação.
O menino voltou para casa e chorou.
Naquela época minha terra não passava de um vilarejo contendo umas oitenta casinhas perdidas no meio do nada, e eu era muito pequeno, mais ainda me lembro perfeitamente de um episódio vivenciado por lá.
Havia no ar um zum zum zum de que o mundo iria se acabar na passagem da noite daquela segunda-feira, 20 de julho de 53, dia de Santo Aurélio, mas não sei ao certo de que fonte partiu tão desastroso boato espalhado aterrorizadamente pelas beatas do lugar.
Uma agitação apoderou-se descontroladamente de todos.
Era um entra e sai de casa em casa com profundos lamentos; um beija-beija aos murmúrios envolvidos a abraços calorosos; uma choradeira infindável embalada por abundantes lágrimas em meio a uma tristeza funérea relacionada ao tão badalado fim do mundo, onde eu lá também chorei.
As pessoas acreditavam piamente em tudo que ouviam, isso em razão de morarmos num lugar distante das civilidades dos jornais, dos rádios e das tevês. Nós ainda não existíamos nem mesmo no mapa mundi e éramos obrigados a crer em tudo e em todos, principalmente no que o vigário dizia. Ah seu vigário, o homem mais sábio de lá! Este usava de seus espaços litúrgicos para só falar da morte e da salvação, parecia que não tinha outro assunto a ensinar, e isso aguçava mais ainda o medo na cabeça das beatas. Muitas pessoas que lá passavam diziam que nunca mais pisariam ali, onde o Judas perdeu as botas (sei muito bem o significado dessa alusão), mas era assim que diziam.
Minha mãe - beata fervorosa - também movida pelas pregações se agarrava a um terço e não parava de rezar e de implorar que morrêssemos em paz. O interessante é que não havia guerra por lá e a única guerra era a da labuta pela sobrevivência das secas impiedosas, parecia que estávamos à espera de um ataque de um inimigo invisível, mas... será por quê teríamos que morrer? Quem nos mataria naquela noite? Eu gemia de medo.
O dia 20 de julho de 53 foi longo e a noite não era bem esperada por ninguém, era nela que a morte viria.
“ .... saibam, caríssimos irmãos, eu aprendi que a força da natureza é implacavelmente impiedosa e dela ninguém escapa. Vocês verão, nessa segunda-feira, a olho nu, a Lua sumir e as trevas descerem sobre todos” - , foi como disse pausadamente o seu vigário para sua assídua platéia de beatas e rezadeiras que nem mesmo piscavam os olhos.
Com esse discurso o vigário falava sobre um simples eclipse lunar total, mas as beatas interpretaram a seus modos e espalharam que o mundo acabaria naquela noite. Quem iria duvidar delas? Ninguém! Elas praticavam a catequese, limpavam a igreja e ensinavam os cânticos. Eram, pois, confiáveis.
A noite finalmente chegou e todos corriam para fora de casa para olhar a Lua Cheia que no céu brilhava como um diamante. Mas de repente uma sombra foi se apoderando dela e logo o céu escureceu tal como seu vigário proferiu. Seria o fim?
Todos correram amedrontados para dentro de suas casas e se trancaram à luz de candeeiros, e as orações se tornaram mais fervorosas, e assim o dia amanheceu. Amanheceu brilhoso como um outro dia qualquer do Sertão, e a seca permaneceu flagelando a carne e os ânimos daquele povo sôfrego sobrevivente de um apocalipse antecipado.
E a seguir todos os vizinhos concomitantemente se indagavam:
- Você Viu? Você ainda está vivo?
E tudo virou gozação.
Fruto de uma árvore genealogicamente humilde, aqui, com o meu primeiro raio de luz, desabriguei-me choroso das entranhas maternas e me inseri numa árida e sofrida região do terceiro mundo.
Surgi tal qual um algarismo a ser inserido nos registros e nas estatísticas de governos, onde, ainda, aqui estou, sedento de justiça, junto a uma leva de milhões de compatriotas que só servimos como dados de referência para a rolagem das dívidas ou, apenas, como ferramenta propícia para o enriquecimento de exploradores da pobreza.
Porém, com tantas mazelas, ainda me sobra tempo e espaço para sorrir e dizer que sou feliz, mas creio que o digo pelo simples e voluntário ato de falar.
– Sim, sou feliz – repito –, apesar de ter saboreado do meu primeiro chocolate aos 14 anos de idade, e isto graças ao “Seu” Kennedy. Foi este bondoso homem que através do programa “Aliança para o Progresso” mandou vitaminar as criancinhas desnutridas do mundo afora e, entre elas, eu. Foi isto o que me disse a professora Teresa, a grande lapidadora da minha negra ignorância. Foi ela quem me confidenciou ser o Tio Sam o remetente daquela deliciosa comida feita à base de chocolate, e eu, na mais pura ingenuidade, julgava ser verdadeiramente sobrinho do Tio Sam.
Repleto de incredulidade com o tal slogan, eu me indagava: por que alimento para a paz se a
guerra com o Paraguai cessara há décadas? Estariam inventando outras? Deus que nos acuda! Ficava eu falando a sós, enquanto alisava o saco do chocolate estampado com uma bandeira listrada rubramente e divinamente estrelada. Foi ai que decorei a flâmula americana e passei a achá-la muito bela. Ela ocupava quase toda a embalagem do chocolate, enquanto que a de destino, a auriverde, bem miudinha, lá num cantinho do saco, mal se podia ler o recado que nos foi atribuído numa faixa branca cortando o céu do Brasil: “Ordem e Progresso”. “Ordem nós temos em demasia, mas o tal progresso só vem de muletas, assim nos dizia a professora Teresa”.
Mas, num entardecer de certo dia, o destino cumprindo seus planos me fez sentar num banco de jardim d’uma cidadezinha interiorana, aonde eu me deliciava com as músicas dos serviços de alto-falantes, quando, abruptamente, a melodia cessou e o locutor com uma voz embargada e trêmula, balbuciando, alertou:
– Agência Press - “Estados Unidos, Dalas, Texas”, urgente:
“O presidente John Fitzerald Kennedy acaba de falecer vitimado em atentado”.
Estupefato com aquela estupidez eu me arrepiei dos pés à cabeça.
– Mataram “seu” Kennedy?! Mataram o presidente! – gritei exclamando aos ventos e interrogando a mim mesmo.
– Mataram Kennedy?
– Valha-me Deus!
Era só o quê se dizia; era só o quê se ouvia.
Com certo pesar o homem do alto-falante repetia aquela lastimada notícia por seguidas vezes sem fundo musical e sem nenhum comentário e em seguida desligava o som deixando a população da cidade em êxtase, mas, passados alguns minutos, ele voltava a noticiar a mesma fala. Parecia que só queria se recompor.
Num piscar de olhos surgiram tarjas negras em portas, janelas e carros, e tudo parou; e o luto foi iminente; e a comoção transformou-se em lágrimas nos olhos dos habitantes do planeta.
Momentaneamente tive uma sensação de ter perdido alguém da familia.
Levantei-me do banco do jardim e silenciosamente me recompus monologando:
“Não, ele não é meu parente, nem tampouco meu presidente!”
Tive calafrios ao imaginar que alguma coisa muito grave estaria acontecendo nos bastidores da guerra fria, e que o mundo, doravante, corria sério perigo frente à temida corrida atômica. Só havia um Kennedy para frear a escalada da morte que se imaginava iminente. E agora, como seria sem ele? Morreríamos? Será que nunca mais eu comeria um chocolate em pó? Indaguei-me, e nesse instante me lembrei de um tristonho diálogo que há anos atrás ouvira entre minha mãe e nossa vizinha Don’ana que nervosamente eufórica punha a cabeça para fora da janela e gritava:
– Comadre Maria! Ôôô comadre!
– O quê é comadre Ana? – respondeu-lhe mamãe, segurando-me ao colo.
– O presidente Vargas morreu! O rádio disse que foi suicídio.
– Valha-me Deus! Suicídio não, comadre! Suicida não entra no Céu! – questionou mamãe pondo em pauta um dos princípios da sua fé e concluiu sua tristeza dizendo: e agora, comadre? O que vai ser dos pobres?
Não deu para segurar a emoção e aparei uma gota que rolando do seu rosto caiu na minha mão.
– Estamos perdidas, comadre! – retrucou Don’ana, também lacrimosa.
Naquele instante uma onda de tristeza apoderou-se de mim, e também chorei, mas certamente foi o choro de uma criança que nem mesmo sabia o significado da palavra suicídio. Creio que aquelas pequenas lágrimas foram pelo fato de me sentir um pobre prematuramente desamparado, e que, sequer, havia até então degustado um chocolate.
Depois me senti calejado com o descaso que me impuseram, e me consolei ao ver-me equiparado a outras tantas milhões de almas desamparadas que perambulam pelo mundo, e que, provavelmente, ainda vivem na mais promíscua necessidade sem nunca se ter deliciado de um chocolate em pó made in USA, made in Brazil, nem made in lugar nenhum, mas, mesmo assim, se diz feliz.
FELIZ, APESAR DE TUDO
(Baseadao em epsódios da vida real)
Fruto de uma árvore genealogicamente humilde, aqui, com o meu primeiro raio de luz, desabriguei-me choroso das entranhas maternas e me inseri numa árida e sofrida região do terceiro mundo.
Surgi tal qual um algarismo a ser inserido nos registros e nas estatísticas de governos, onde, ainda, aqui estou, sedento de justiça, junto a uma leva de milhões de compatriotas que só servimos como dados de referência para a rolagem das dívidas ou, apenas, como ferramenta propícia para o enriquecimento de exploradores da pobreza.
Porém, com tantas mazelas, ainda me sobra tempo e espaço para sorrir e dizer que sou feliz, mas creio que o digo pelo simples e voluntário ato de falar.
– Sim, sou feliz – repito –, apesar de ter saboreado do meu primeiro chocolate aos 14 anos de idade, e isto graças ao “Seu” Kennedy. Foi este bondoso homem que através do programa “Aliança para o Progresso” mandou vitaminar as criancinhas desnutridas do mundo afora e, entre elas, eu. Foi isto o que me disse a professora Teresa, a grande lapidadora da minha negra ignorância. Foi ela quem me confidenciou ser o Tio Sam o remetente daquela deliciosa comida feita à base de chocolate, e eu, na mais pura ingenuidade, julgava ser verdadeiramente sobrinho do Tio Sam.
**
Diminuíram-se assim minhas fraquezas e adquiri mais ânimo e energias com o dito alimento, do qual, se bem me lembro, estava higienicamente embalado em saco plástico – creia, eu nunca tinha visto um saco plástico –, e nele o slogan:
“USA X BRAZIL”
“ALIMENTO PARA A PAZ”
guerra com o Paraguai cessara há décadas? Estariam inventando outras? Deus que nos acuda! Ficava eu falando a sós, enquanto alisava o saco do chocolate estampado com uma bandeira listrada rubramente e divinamente estrelada. Foi ai que decorei a flâmula americana e passei a achá-la muito bela. Ela ocupava quase toda a embalagem do chocolate, enquanto que a de destino, a auriverde, bem miudinha, lá num cantinho do saco, mal se podia ler o recado que nos foi atribuído numa faixa branca cortando o céu do Brasil: “Ordem e Progresso”. “Ordem nós temos em demasia, mas o tal progresso só vem de muletas, assim nos dizia a professora Teresa”.
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Meu status como comedor de chocolate americano estava em alta, e eu nem imaginava que naquela mesma época as criancinhas da Biafra, lá no além–mar, eram tão desnutridas quanto eu, e se empanturravam, também, do dito alimento, e que em suas angelicais inocências, tais quais as minhas, acreditavam piamente serem verdadeiros sobrinhos do tal Tio Sam. Éramos irmanados nas necessidades calóricas e nas ignorâncias.Mas, num entardecer de certo dia, o destino cumprindo seus planos me fez sentar num banco de jardim d’uma cidadezinha interiorana, aonde eu me deliciava com as músicas dos serviços de alto-falantes, quando, abruptamente, a melodia cessou e o locutor com uma voz embargada e trêmula, balbuciando, alertou:
– Agência Press - “Estados Unidos, Dalas, Texas”, urgente:
“O presidente John Fitzerald Kennedy acaba de falecer vitimado em atentado”.
Estupefato com aquela estupidez eu me arrepiei dos pés à cabeça.
– Mataram “seu” Kennedy?! Mataram o presidente! – gritei exclamando aos ventos e interrogando a mim mesmo.
– Mataram Kennedy?
– Valha-me Deus!
Era só o quê se dizia; era só o quê se ouvia.
Com certo pesar o homem do alto-falante repetia aquela lastimada notícia por seguidas vezes sem fundo musical e sem nenhum comentário e em seguida desligava o som deixando a população da cidade em êxtase, mas, passados alguns minutos, ele voltava a noticiar a mesma fala. Parecia que só queria se recompor.
Num piscar de olhos surgiram tarjas negras em portas, janelas e carros, e tudo parou; e o luto foi iminente; e a comoção transformou-se em lágrimas nos olhos dos habitantes do planeta.
Momentaneamente tive uma sensação de ter perdido alguém da familia.
Levantei-me do banco do jardim e silenciosamente me recompus monologando:
“Não, ele não é meu parente, nem tampouco meu presidente!”
Tive calafrios ao imaginar que alguma coisa muito grave estaria acontecendo nos bastidores da guerra fria, e que o mundo, doravante, corria sério perigo frente à temida corrida atômica. Só havia um Kennedy para frear a escalada da morte que se imaginava iminente. E agora, como seria sem ele? Morreríamos? Será que nunca mais eu comeria um chocolate em pó? Indaguei-me, e nesse instante me lembrei de um tristonho diálogo que há anos atrás ouvira entre minha mãe e nossa vizinha Don’ana que nervosamente eufórica punha a cabeça para fora da janela e gritava:
– Comadre Maria! Ôôô comadre!
– O quê é comadre Ana? – respondeu-lhe mamãe, segurando-me ao colo.
– O presidente Vargas morreu! O rádio disse que foi suicídio.
– Valha-me Deus! Suicídio não, comadre! Suicida não entra no Céu! – questionou mamãe pondo em pauta um dos princípios da sua fé e concluiu sua tristeza dizendo: e agora, comadre? O que vai ser dos pobres?
Não deu para segurar a emoção e aparei uma gota que rolando do seu rosto caiu na minha mão.
– Estamos perdidas, comadre! – retrucou Don’ana, também lacrimosa.
Naquele instante uma onda de tristeza apoderou-se de mim, e também chorei, mas certamente foi o choro de uma criança que nem mesmo sabia o significado da palavra suicídio. Creio que aquelas pequenas lágrimas foram pelo fato de me sentir um pobre prematuramente desamparado, e que, sequer, havia até então degustado um chocolate.
Depois me senti calejado com o descaso que me impuseram, e me consolei ao ver-me equiparado a outras tantas milhões de almas desamparadas que perambulam pelo mundo, e que, provavelmente, ainda vivem na mais promíscua necessidade sem nunca se ter deliciado de um chocolate em pó made in USA, made in Brazil, nem made in lugar nenhum, mas, mesmo assim, se diz feliz.
Inesquecível carrocel- è uma triste realidade de todos os tempos.
ResponderExcluirRita
O amor no preconceito-Lendo esse conto percebemos a ingenuidade das meninas sonhadoras.
ResponderExcluirContinue nos deliciando com seus contos.
Rita
Existem ainda muitas crianças que gostariam de brincar num carrossel.É trite quando uma criança quer divertir um pouco e não tem condições. Muito emocionante!
ResponderExcluirRita Tôrres
Muito bom esse conto, Quase um delinquente.
ResponderExcluirPor pouco não se tornou numa tragédia. Imagino qual não foi a decepção desse adolescente, que vivia longe de violência.
Parabéns!
Rita Tôrres
Quando leio os seus contos, sinto como se estivesse vivendo ou presenciando as cenas.
ResponderExcluirGosto imensamente da maneira como vc escreve.
Rita Tôrres
Amigo, seus contos são emocionantes, parecem reais.
ResponderExcluirContinue nos presenteando com eles.
Parabéns!
Doriane.
Real ou imaginário? Sempre fico com essa interrogação quando leio seus belos contos.
ResponderExcluirRita Tôrres
Ler seus poemas é voltar ao passado. Deus nos premiou, te dando este dom espetácular: narrar o passado com tanta ênfase.
ResponderExcluirQuantas crianças como o Chiquinho teve o mesmo desejo! Este conto me faz perceber que o tempo não mudou e as crianças também, não! Pois quantas crianças ainda sonham e desejam brincar num carrocel!Eu gostaria de te dizer que voce tem sentimento no que voce escreve. Você tem emoção. Seus escritos deveriam estar como exemplo nas escolas, e nas livrarias.
ResponderExcluirSeu Pedreira! Que maravilhoso conto O mendigo e eu - Eu e o mendigo! Escrever é um dom sabia? Uma pessoa pode passar anos estudando letras, como eu, por exemplo, e não conseguir escrever um conto! Acho que estou mais para a area da linguistica!
ResponderExcluirBjos
Natalia
O Pequeno Lenhador, é um conto de tamanha riqueza de detalhes, que aguça a nossa imaginação a vivenciar uma realidade marcante e toda trajetória dessas crianças corajosas, que superaram todo esse sofrimento de lutar pela sobrevivência naquela época. Parabéns!
ResponderExcluirRita Tôrres